quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Desassossego

Ando inquieta. De uma inquietude constante e silenciosa que mói devagarinho até ao ponto em que se torna difícil respirar.
Um desassossego que vem de todo o lado e de lado nenhum, da incerteza do futuro e do marasmo do presente, do ruminar nas decisões tomadas e nas que ficam por tomar.
Sinto-me presa, cheia de sede de vida e de liberdade, cheia de vontade de voar. Mas o que me prende, se não eu própria? E voar para onde? Em direcção a quê?
Na imperceptível inquietude dos meus pensamentos, misturam-se cheiros, vontades, sentimentos, lágrimas e gritos de guerra que ninguém chega a ouvir.
É o desassossego de quem não faz a mínima ideia do que anda a fazer e está cansada de andar há demasiado tempo a fingir o contrário.
Ruminante e inquieta. Assim me mantenho, de dia para dia, até descobrir o que me poderá tirar deste permanente estado de ansiedade. Supondo que um dia descubro.
Até lá, aqui estou. Assim mesmo: desassossegada.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

De outros Carnavais

Quando eu era criança, adorava o Carnaval.
Todos os anos, uma máscara nova, sempre feita em casa e sempre vestida com entusiasmo. Na memória ficam o vestido de dama antiga feito de raiz pela minha avó com a peruca entrançada pacientemente pela minha mãe, o fato de bruxa no qual foram pacientemente cosidas dezenas de pequenas luas e estrelas em papel prateado, o fatinho de pagem, que já vinha de gerações passadas, a máscara de índia, com direito a penas e maquilhagem à altura, e tantas outras...
A última vez que me mascarei foi há 10 anos, já a contra-gosto, e apenas porque fui passar o Carnaval a Chaves com amigas, todas entusiastas carnavalescas, que basicamente me coagiram a mascarar-me.
Hoje em dia, a única coisa a que acho piada nesta época são as crianças mascaradas. Sobretudo porque a alegria com que envergam as suas máscaras me lembra da minha própria alegria quando ia para a escola orgulhosa da minha máscara, levando sempre um rolo de serpentinas pela mão.
Já as celebrações carnavalescas dos adultos não fazem senão deprimir-me: não consigo evitar pensar que os foliões mais não são do que pessoas que não conseguem ser quem gostariam de ser durante o resto do ano e usam estes dias como desculpa para extravasar frustrações e libertarem-se das amarras do quotidiano. Na realidade, até deve ser um processo saudável e catártico, acordar a criança que há em cada um três dias por ano e fingir que se é outra pessoa/animal/criatura.
Mas a mim, chega a dar-me pena ver os festejos na televisão, sobretudo quando vejo dezenas de homens vestidos de mulher e as imitações rascas de sambódromo que proliferam pelo país a fora nestes dias.
Raios... Ainda me faltam alguns para os 30 e já perdi a capacidade de brincar ao Carnaval.
Será que daqui é sempre a descer?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Da contradição

Eu nunca gostei do Dia dos Namorados.
Desde miúda, sempre achei um enjoo os corações espalhados por todo o lado, os ursos de peluche agarrados a corações que são preenchidos com a invariável inscrição "I love you", a proliferação de rosas vermelhas por todo o lado (restaurantes, montras, cafés, vale tudo) e o massacre de anúncios televisivos a perfumes, relógios e lingerie.
Não tenho nada contra o romance, mas todos estes clichés sempre me pareceram demasiado impessoais, forçados. Como uma espécie de artificialização do amor que, no fundo, é inerentes à existência humana e, como tal, pode (e deve) ser exprimido de tantas formas diferentes, de preferência tendo sempre em mente a personalidade própria do destinatário.
Dito isto, sempre tive secretamente o desejo - nitidamente incutido por demasiadas horas a ver filmes e séries americanas - de um dia receber um cartão ou uma mensagem com uma única frase: "Will you be my Valentine?". O cúmulo do cliché, eu sei. Mas, não sei porquê, sempre achei esta expressão intraduzível de uma enorme doçura.
Este ano, volto a pensar que seria giro receber uma mensagem assim. Mas cheira-me que ainda não é desta.