quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Lisboa deluxe

Mesmo ao lado do escritório onde estou a estagiar, abre hoje a primeira loja Gucci em Portugal. Ao longo do último mês, na área circundante, ouviu-se o martelar das obras, especulou-se sobre datas de abertura. Houve até quem tentasse espreitar por trás dos painéis que tapavam a fachada.
Ontem, a loja foi finalmente revelada. Linda, clássica, luxuosa e com montras recheadas de artigos igualmente lindos, clássicos e luxuosos, como só a Gucci (e poucas outras) sabe fazer. Um verdadeiro pedaço de 5ª Avenida em pleno coração de Lisboa.
Hoje, desde as primeiras horas da manhã, tem sido um corropio de jornalistas de moda e fotógrafos em redor da dita loja, todos em busca da imagem perfeita para retratar o seu imponente glamour. Impossível, digo-vos eu, porque ao vivo a coisa é de tirar a respiração a qualquer mulher que se preze e coloca-nos imediatamente numa espécie de transe fashionista, ao estilo Sex&The City.
Cerca das 11.30h da manhã, não resistindo a um ímpeto voyeurista, fui até à janela espreitar para dentro da loja, qual turista saloia. E o que vi, fez-me desdenhar ainda mais a minha condição de estagiária: lá dentro, gente bonita e bem vestida beberica o champanhe que a loja oferece em delicadas flutes que repousam em bandejas prateadas, observando os artigos com cara de quem está a escolher o que levar para casa, e passeia-se descontraidamente como se não houvesse mais nada no mundo.
Num fugaz momento de futilidade, auto-comiseração e ingratidão cósmica, permiti-me pensar: "que bom que deve ser poder passar a manhã a beber champanhe e a escolher artigos de luxo, em vez de trabalhar para nem sequer receber um salário em troca."
Esta reflexão nada profunda levou a outra um pouco mais séria: em que medida é que as escolhas que fazemos influenciam realmente a vida que temos e que papel está reservado a factores mais aleatórios e abstractos como a sorte ou o timing?
Tenho dado por mim muitas vezes a questionar as escolhas que tenho feito nos últimos anos e a pensar se a não concretização dos objectivos que já esperava ter alcançado nesta altura da minha vida se deve, na verdade, à falta de sorte, àquilo que vulgarmente chamamos de conjuntura ou se se trata simplesmente daquilo que os anglófonos designam por poor decision-making...


P.S.: Para o caso de alguém se questionar: não, a Gucci não me ofereceu nadinha (é que nem uma flute de champanhe) para eu fazer publicidade à loja deles. No entanto, se quiserem oferecer, estou disposta a escrever um post com direito a repetição da palavra, link para o site, logotipo e o que mais quiserem, em troca de uma das malinhas que jaz ali na montra... É que uma mulher tem princípios, mas também fraquezas.

1 comentário:

  1. E ter uma chefe que recebe - como prendinha por ter ganho um processo - uma bolsa cor-de-rosa cheia de produtos Prada lá dentro?! hã?!

    (eu te entendo!)

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